A HISTÓRIA

 
 

. Olympia Angélica de Almeida Cotta

Cristiana Miranda Ramos Ferreira
 

. Olympia nasceu em Santa Rita Durão, distrito de Mariana , a 31 de agosto de 1889. Filha de José Gomes de Almeida Cotta e de Amélia Carneiro Cotta, era a penúltima filha de uma família de 16 irmãos. Olympia teve boa educação – estudou no Colégio das freiras Vicentinas, em Mariana. Gostava muito de ler, escrevia poesias, tocava piano, falava latim.Chegou a ser professora até a idade de 20, 22 anos.

. Segundo contam, foi uma jovem de beleza inigualável. Era muito cobiçada pelos rapazes da região. “Eu era uma só e todos queriam dançar comigo. Sabe o que aconteceu? A escolha era tão difícil, os rapazes eram tão bonitos, que eu acabei não casando com nenhum.” É assim que Olympia justificava o fato de nunca ter se casado.

. Mas essa ‘solteirice’ (problema) parece ter outras origens, que inclusive remontam ao desencadeamento de sua doença. Isso se deu por volta de 1918. Olympia estava com cerca de 29 anos. Há várias versões a respeito do fato, mas todas relacionadas à frustração amorosa. Dentre as versões, a mais difundida é que seu pai teria proibido seu casamento com o rapaz que amava, pois o mesmo era pobre, o que não convinha a uma família de posses como a sua. Em resposta, a sogra lhe enviou uns abacates enfeitiçados. Depois de comê-los, Olympia não foi mais a mesma.

. Primeiro, ela entrou em um estado de depressão – passou por uma fase silenciosa, triste, séria. Gostava de ficar na janela. Chorava muito, falava sozinha. Foi aí que Olympia começou a contar histórias.

. Alguns anos depois, em 1929, Olympia se mudou para Ouro Preto com a família. Gostava de visitar seus familiares, mas estes começaram a se cansar de suas visitas, considerando-a por vezes inoportuna, passando a evitar recebê-la. Com isso começou a perambular pelas ruas.

. Nessa época, ainda se vestia com roupas normais, mas já era conhecida pelas suas histórias que contava, ‘sem pé nem cabeça’. Além dos moradores da cidade, gostava de andar com os estudantes, que muitas vezes a convidavam para beber cachaça com limão.

. Segundo seus contemporâneos, numa dessas rodadas de cachaça, ela se embriagou tanto, que se sentou no meio da praça central e disse tudo o que pensava, tudo o que sabia sobre a cidade, revelando os segredos e expondo as intimidades de seus moradores, na maior indiscrição. Foi um escândalo. Outros, mais detalhistas, afirmam que Olympia, que sempre cismava de namorar os outros, nesta época, se apaixonou com um médico da cidade. Mesmo sendo ele um homem casado, Olympia brava pelos ares, o amor dos dois - que parece um quadro de erotomania. O fato, é que esta situação rendeu à Olympia, um atestado de loucura. Conseqüência: foi levada para o manicômio de Barbacena. Ficou internada durante cerca de 9 meses. E sabendo bem, como era o tratamento da época: camisa de força, choque elétrico, reclusão em solitária, entre outro métodos, fizeram com que Olympia retornasse a Ouro Preto, magra, maltrapilha, com o corpo cheio de hematomas, marcas no corpo - irreconhecível.

. Depois desse episódio não foi mais a mesma. Foi então que Olympia passou a adotar o visual exótico, pelo qual ficou conhecida. Gostava de usar muitas saias - uma por cima da outra, muita maquiagem, unhas vermelhas. Suas roupas, muito coloridas, eram acompanhadas por chalés e chapéus floridos, portando sempre um cajado na mão e cigarro na boca.

O cajado, peça da qual jamais se separava, era, inicialmente, um cabo de vassoura, depois um pedaço de bambu e no final, começaram a fazer para ela outros, mais bonitos, torneados. Mas todos eles eram decorados com flores, penas, papel de bala, flores de papel crepom, santinhos, pacotes vazios de cigarro, fotografias, broches...

. Desde cedo, Olympia ia para a Praça Tiradentes, onde, tal como um guia turístico, ficava a espera dos visitantes. Passava o dia inteiro com os turistas – contando seus causos, tirando fotos, pedindo ‘o dólar’.

. Contava histórias de nobreza, nas quais transitavam personagens como Princesa Isabel, Tiradentes, Chico Rei, Dom Pedro I e II. Entretanto, colocava-se a si mesma, como fazendo parte destas histórias. Dizia-se muito nobre e rica, descendente da família real, por vezes parente de Dom Pedro ou então do Marquês do Paraná. Atribuía-se o título de princesa, tendo sido coroada imperatriz, teria conhecido Tiradentes, alforriado escravos, fora amante de Chico Rei...

. Ao poucos, diante dos olhos dos turistas, passou a ser mais um dos monumentos da cidade a ser visto, visitado. Entre as décadas de 50 a 70 do século passado, Olympia era mais uma das preciosidades da cidade, um monumento vivo, que enchia de cor, alegria e originalidade, a sobriedade e peso do cenário histórico.

. Olympia não passava desapercebida,e ela gostava disso, de chamar a atenção. Sua fama ultrapassou os limites de Minas, chegando a ser internacionalmente reconhecida. Foi capa da revista Times, participou do Programa do Chacrinha, retratada por fotógrafos e pintores, inspirou músicas e poemas, foi tema de samba enredo da Mangueira, conheceu Juscelino Kubitscheck, Tancredo Neves, Vinícius de Moraes, Rita Lee e muitos outros famosos. Recebia cartões e presentes do mundo inteiro. Cartões vindos da Inglaterra, Chapéus do mercado das pulgas de Paris, medalhas moedas e outros presentes de várias partes do mundo, chegavam pelo correio.

. Mesmo assim, Olympia, como tantas outras figuras da rua, não escapava à zombaria das crianças. Nestas, ela provocava um misto de medo e admiração. Os meninos mais corajosos gostavam de chamá-la de ‘homem’, por causa da voz grossa e pelos no rosto. Ela respondia com gestos indecentes e mesmo sem usar nada debaixo da roupa, levantava a saia e mostrava que não. Nessas horas, falava cada palavrão...

. Para além da circulação pela cidade, entre moradores e turistas, Olympia atribuía a si mesma uma função social: era protetora dos pobres e dividia com eles suas esmolas. Não que ela precisasse de esmolas, mas ela adorava pedir. Pedia dinheiro aos turistas, pedias cigarros, bonecas...

. Depois de 1970, cansada, deixou de subir à Praça Tiradentes. Costumava ficar sentada à porta da casa. Em 1976, aos 87 anos, faleceu, vítima de arteriosclerose. Foi sepultada no cemitério da Igreja São José.

“Ah meus meninos, vocês são novos e não sabem o sofrimento que passei. Fui obrigada a fazer promessa de pedir esmolas, sair mendigando para socorrer aos pobres e também valer a minha pessoa. Eu fiquei sem coisa alguma. Agora, imagina você meu filho, que martírio, sem o povo saber porque que eu ando mendigando, porque que eu ando como uma mendiga, no meio da rua, pedindo... E ganho tudo, e protejo a quem não tem. Com a graça de Deus.”

(Fala de Olympia, extraída do curta D. Olímpia de Ouro Preto, Alberto Sartori)
 

. Referência Bibliográfica:

 
• ALMEIDA, Rachel. A primeira hippie do Brasil, in:
http://www.palmalouca.com/reportagem/reportagem.jsp?id_reportagem=70
• GRAMONT, Guiomar. Sinhá Olympia, as festas e manifestações populares, in: http://www.festivaldeinverno.ufop.br/2006/sinhaolympia.php
• Sinhá Olímpia, in: Pousada Sinhá Olimpia
http://www.idasbrasil.com.br/sinhaolimpia/#
• BONES, Marcelo. MOURÃO, Ângela GRAMONT, Guiomar. In:
Olympia. Peça teatral – Grupo Andante.
 
 
. A História .
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